Todo esse tempo, nada havia mudado. Ronda ainda tinha os mesmos buracos em seu jogo que poderiam ser expostos. Sua confiança poderia ser quebrada. Ela era mortal!
Durante toda a semana, Ronda Rousey “não tinha nada a dizer”. Os dias que antecederam a luta desta sexta-feira, 30, do UFC 207 em Las Vegas, ficaram marcados pelo silêncio de Rowdy, que vieram acompanhados também de um ano de silêncio quase que monástico, em favor de uma busca de paz de espírito. O que se pode ponderar (e que só a própria Ronda Rousey pode afirmar com certeza) é que Ronda foi quebrada na sua derrota para Holly Holm em novembro de 2015, sua confiança se despedaçou em um milhão de pequenos fragmentos.
Depois de se recompor (ou pelo menos tentar o melhor que pôde) ela reapareceu, fisicamente exatamente como lembrávamos. Talvez até melhor. Mas, pela primeira vez, não foi seu atletismo que estava em questão, mas sim sua capacidade de controlar as emoções. Sua confiança. Sua reação ao ser atingida.
De repente, a mulher que uma vez foi vista como uma das lutadoras mais dominantes do mundo estava sendo vista com um grande ponto de interrogação.
Durante toda a semana, o UFC fez o que pôde para transmitir a mensagem de que Ronda Rousey estava em casa. Mesmo em ausência (Ronda recusou-se a fazer o trabalho de mídia pré-luta padrão) a promoção da luta espalhou a mensagem.
"Ela está de volta", muitas vezes, de uma forma que até ignorava ou apagava a verdadeira campeã feminina peso-galo, a baiana Amanda Nunes.
O "Ela está de volta" era apenas literal. Sim, nós poderíamos provar que ela estava fisicamente lá, mas seu desempenho? Sua aura?
Dê uma olhada, por exemplo, em um tweet que o UFC postou para seus 4,8 milhões de seguidores cerca de uma hora antes do pay-per-view do UFC 207 começar. Se você apenas olhar para ele, parece Ronda Rousey está lutando contra si mesma. Até certo ponto, ela estava.
Nas poucas vezes em que Ronda Rousey falou ao público depois de ser nocauteada por Holly Holm, parecia que os efeitos emocionais de sua devastadora perda continuavam a assombrá-la. Ela disse a Ellen DeGeneres que o suicídio tinha entrado em sua mente. Ela disse a Dana White que se sentia traída pela mídia.
Ronda Rousey sofreu uma derrota esmagadora ontem, 30 de dezembro de 2016, um atropelamento, e viu o árbitro Herb Dean graciosamente salvá-la após 48 segundos angustiantes.
Todo esse tempo depois de sua primeira derrota, Ronda Rousey não mostrou melhorias nos movimentos da esquiva que a atormentaram em sua derrota para Holly Holm. Uma boa técnica de esquiva faz com que o lutador escape dos golpes e tenha a possibilidade de contra golpear com firmeza. Ronda mostrou enorme vontade e coração em sua derrota para Holm e fez isso desta vez também contra Amanda Nunes. Ela simplesmente não fez o suficiente para evitar que uma série de direitas poderosas se dirigissem para ela, um após o outro, e Ronda conseguiu ficar de pé, balançando e indefesa até o fim. Então ela ficou ali em uma mistura de confusão, choque e derrota.
É difícil imaginar Ronda voltando disso, um choque ainda maior e mais desequilibrado que o ultimo.
Apesar de tudo, a multidão de Las Vegas estava firmemente apoiando Ronda Rousey, nas pesagens de quinta-feira, 29, e luta de sexta-feira, 30, tentando levantar a lutadora a sua glória anterior.
Em contraste com Rousey, Amanda Nunes, uma vez vista como um talento “mercurial” capaz de muito mais do que ela tinha conseguido, entrou na luta montanda em uma onda de confiança. Em lutas anteriores, ela conseguiu quatro vitorias consecutivas, sobre Shayna Baszler, Sara McMann e Miesha Tate, a última conquistando o título.
Dona de um poderoso e ainda ocasionalmente selvagem jogo e de uma faixa preta em Jiu Jitsu Brasileiro, Amanda Nunes trouxe um conjunto de habilidades para oferecer a Ronda Rousey.
Ela se vai agora? Ela processará a derrota da mesma maneira também?
Se ela desapareceu por mais de um ano na última vez, talvez desta vez ela nunca mais volte. Ronda deu muito para o esporte. Ela quebrou a linha de gênero e puxou três divisões de mulheres para o UFC atrás dela. Ela construiu um pequeno exército de fãs. Por um tempo, ela era dominante.
Esse tempo acabou agora?
Ronda Rousey mal esperou até que o anuncio oficial do resultado final fosse lido para deixar o octógono. Ela pegou suas luvas e desceu os degraus, além dos fãs e da mídia, e desapareceu.