As próprias Federações se empenham em manter suas competições locais. O Campeonato Estadual é a sua fonte renda, prestígio e influência.
Um dos grandes problemas enfrentados pelo futebol brasileiro é a permanência, no atual formato, dos Campeonatos Estaduais que ocorrem principalmente entre janeiro e maio.
Em nenhum outro lugar do mundo, clubes gigantescos passam tantos meses enfrentando tantos clubes minúsculos, representados pelas Federações. Federações que pouco fazem para os pequenos clubes. Eles muito raramente parecem ficar maior, e como eles podem, quando a maioria deles estão inativos por mais da metade do ano. É um título barato, que se analisar friamente nada acrescenta para os grandes clubes.
Antes com uma importância vital no país, os Campeonatos Estaduais se tornaram irrelevantes e embaraçosos a partir de 1994, quando o plano econômico do real conseguiu vencer a hiperinflação. Nos anos anteriores. Os clubes tinham enormes dificuldades em cumprir seus compromissos sem os estaduais, e havia pouco incentivo para desenvolver uma estrutura viável. Uma vez que a estabilidade financeira chegou, sua obsolescência ficou óbvia.
Os Estaduais assumiram o aspecto de um anel de casamento engolido por um cavalo. O anel é recuperável, uma vez que sai do outro lado, mas é necessário peneirar um monte de coisas desagradáveis primeiro.
O anel na comparação são, naturalmente, os clássicos locais entre os principais clubes. Mas um desses, que aconteceria no domingo passado, acabou “fodendo” o lugar ainda mais.
Atlético Paranaense e Coritiba estava definido para se enfrentarem na quinta rodada do campeonato do Paraná. Os clubes não haviam chegado a um acordo com as emissoras sobre a venda de direitos de TV, e estavam determinados a transmitir o jogo pela internet. Uma equipe de 12 pessoas fora contratada para cuidar da transmissão. Mas eles não foram credenciados pela Federação do Paraná, que instruiu o árbitro a não permitir que o jogo começasse enquanto eles estivessem no campo. Os clubes se recusaram a recuar, e assim o jogo não avançou. Depois de um atraso as duas equipes vieram para fora para aplaudir os suportes que, dispersaram pacificamente.
Paulo Autuori, treinador altamente respeitado do Atlético, foi comedido, mas direto com seu veredito. Ele condenou "uma atitude arbitrária da Federação. Não havia nenhuma base para impedir o jogo de ir em frente. A transmissão via internet poderia ter ocorrido. Isto pode e acontece mesmo antes de um jogo. Mas eu estou feliz porque isso é uma ruptura de paradigma. Temos de parabenizar os dois clubes por terem tomado uma decisão corajosa. Coragem é o que é necessário para mudar o movimento de eventos no futebol brasileiro ". Afirmou o experiente treinador.
Que as próprias Federações se empenham em manter suas competições locais não é uma surpresa. O Campeonato Estadual é a fonte de sua renda, prestígio e influência.
Mais a pergunta desconcertante é por que os grandes clubes permanecem de forma tão passiva presos em um sistema que é tão prejudicial para os seus interesses?
Também indesvendável é o apoio contínuo que a maciça rede Globo dá ao Campeonato Estadual. Pode se argumentar que a Globo tinha mais a perder com uma transmissão pela internet do Atletiba (no curto prazo). A longo prazo, pode se pensar que, como uma das principais emissoras do futebol brasileiro, a Globo teria interesse em melhorar o produto que vende, o que significa uma reorganização abrangente do calendário e a demolição do Campeonato Estadual na sua forma atual.